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User:Mike Halterman/sandbox/Nome Mulher: Difference between revisions

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'''''Nome Mulher''''' (''Woman's Name'' in ]) was a pioneering ] ] programme commissioned by ] in 1974, shortly after the ].<ref name="nomemulher">{{cite web |url=https://arquivos.rtp.pt/programas/nome-mulher |title=Nome Mulher |website=RTP Arquivos |access-date=2023-07-30 }}</ref> The series, hosted by journalists ] and Antónia de Sousa,<ref name="nomemulher" /> first premiered on 10 August 1974,<ref name="monforte">{{cite web |url=https://arquivos.rtp.pt/conteudos/o-dia-a-dia-da-mulher-de-monforte/ |title=O Dia a Dia da Mulher de Monforte |website=RTP Arquivos |access-date=2023-07-30 }}</ref> featuring a documentary-style look at the lives of women in the small town of Monforte da Beira, ], and what their hopes and dreams were now that they lived in a "post-25 April world".<ref name="monforte" /> The first episode produced, a look into the life of the esteemed journalist ], was the second to air, on 31 August 1974.<ref name="marialamas">{{cite web |url=https://arquivos.rtp.pt/conteudos/maria-lamas/ |title=Maria Lamas |website=RTP Arquivos |access-date=2023-07-30 }}</ref> '''''Nome Mulher''''' foi um programa televisivo pioneiro sobre questões femininas, encomendado pela RTP1 em 1974, pouco após a Revolução dos Cravos.<ref name="nomemulher">{{cite web |url=https://arquivos.rtp.pt/programas/nome-mulher |title=Nome Mulher |website=RTP Arquivos |access-date=2023-07-30 }}</ref> A série, apresentada pelas jornalistas Maria Antónia Palla e Antónia de Sousa,<ref name="nomemulher" /> estreou a 10 de Agosto de 1974,<ref name="monforte">{{cite web |url=https://arquivos.rtp.pt/conteudos/o-dia-a-dia-da-mulher-de-monforte/ |title=O Dia a Dia da Mulher de Monforte |website=RTP Arquivos |access-date=2023-07-30 }}</ref> com um olhar documental sobre a vida das mulheres na pequena cidade de Monforte da Beira, Castelo Branco, e quais eram as suas esperanças e sonhos agora que viviam num "mundo pós-25 de Abril".<ref name="monforte" /> O primeiro episódio produzido, um olhar sobre a vida da estimada jornalista Maria Lamas, foi o segundo a ser transmitido, a 31 de Agosto de 1974.<ref name="marialamas">{{cite web |url=https://arquivos.rtp.pt/conteudos/maria-lamas/ |title=Maria Lamas |website=RTP Arquivos |access-date=2023-07-30 }}</ref>


''Nome Mulher'' aired for 46 semi-monthly installments, with the final installment focusing on the stories of the Local Ambulatory Support Service in the north of Portugal and the involvement of women in the Fundo de Fomento à Habitação (Housing Development Fund) in Porto, on 2 March 1976.<ref name="direito">{{cite web |url=https://arquivos.rtp.pt/conteudos/direito-a-habitacao-1-2/ |title=Direito à Habitação – Parte I |website=RTP Arquivos |access-date=2023-07-30 }}</ref> After that broadcast, the programme was pulled from the schedule, never to return.<ref name="aftermath">{{cite web |url=https://www.esquerda.net/en/artigo/mulheres-de-abril-testemunho-de-maria-antonia-palla/48964 |title=Mulheres de Abril: Testemunho de Maria Antónia Palla |website=Esquerda.net |access-date=2023-07-30 }}</ref> ''Nome Mulher'' foi emitido durante 46 episódios semestrais, com o último episódio focado nas histórias do Serviço Local de Apoio Ambulatório no norte de Portugal e no envolvimento das mulheres no Fundo de Fomento à Habitação no Porto, a 2 de Março de 1976.<ref name="direito">{{cite web |url=https://arquivos.rtp.pt/conteudos/direito-a-habitacao-1-2/ |title=Direito à Habitação – Parte I |website=RTP Arquivos |access-date=2023-07-30 }}</ref> Após essa transmissão, o programa foi retirado da programação, nunca mais regressando.<ref name="aftermath">{{cite web |url=https://www.esquerda.net/en/artigo/mulheres-de-abril-testemunho-de-maria-antonia-palla/48964 |title=Mulheres de Abril: Testemunho de Maria Antónia Palla |website=Esquerda.net |access-date=2023-07-30 }}</ref>


==Conceção e controvérsia==
==Conception and controversy==


''Nome Mulher'' was part of a broader campaign at ] to incorporate all Portuguese voices and opinions into its programming after the Carnation Revolution overthrew the '']'' regime on 25 April 1974.<ref name="nomemulher" /> The ''Estado Novo'' regime sidelined women in many respects, teaching Portuguese women that their service in life was to be a good wife, good mother, and good ]. Overall RTP programming prior to the Carnation Revolution would have focused on promoting solely these attributes. ''Nome Mulher'' fazia parte de uma campanha mais ampla da Rádio e Televisão de Portugal para incorporar todas as vozes e opiniões portuguesas na sua programação após a Revolução dos Cravos ter derrubado o regime do Estado Novo a 25 de Abril de 1974.<ref name="nomemulher" /> O regime do Estado Novo marginalizou as mulheres em muitos aspetos, ensinando as mulheres portuguesas que o seu serviço na vida era ser uma boa esposa, boa mãe, e boa católica. A programação da RTP antes da Revolução dos Cravos teria se focado apenas na promoção destes atributos.


Two female journalists who had already received accolades for their work at home and abroad were Maria Antónia Palla and Antónia de Sousa, two of the three noted "Três Antónias"<ref name="aftermath" /> in Portugal's budding second-wave feminist movement. With the help of production cooperative Cinequipa and producers Fernando Matos Silva and João Matos Silva,<ref name="aftermath" /> ''Nome Mulher'' was conceptualized as a way for women to express themselves freely about the world they are now facing, and will face, now that the old regime was gone and Portugal was on a road to full representative democracy. Speaking on her work, Palla commented in 2017, "The project involved making an inventory and debating women's problems and recording the most representative actions of their struggles during the revolutionary period. Sometimes, we approached a concrete case, other times, a thematic case. We talked about things that had never been discussed before: divorce, single mothers, de facto unions, et cetera."<ref name="aftermath" /> Duas jornalistas que tinham recebido elogios pelo seu trabalho em Portugal e no estrangeiro foram Maria Antónia Palla e Antónia de Sousa, duas das "Três Antónias"<ref name="aftermath" /> do movimento feminista de segunda onda em Portugal. Com a ajuda da cooperativa de produção Cinequipa e dos produtores Fernando Matos Silva e João Matos Silva,<ref name="aftermath" /> ''Nome Mulher'' foi conceptualizado como uma maneira de as mulheres expressarem livremente o mundo com que agora se confrontavam, e iriam enfrentar, agora que o antigo regime tinha acabado e Portugal estava a caminho de uma democracia representativa plena. Falando sobre o seu trabalho, Palla comentou em 2017, "O projecto passava por inventariar e debater os problemas das mulheres e registar as acções mais representativas das suas lutas no período revolucionário. Umas vezes, abordávamos um caso concreto, outras, um caso temático. Falávamos sobre coisas que nunca se tinham discutido antes: divórcio, mães solteiras, união de facto, etc."<ref name="aftermath" />


The road to democracy was rocky in Portugal, with a coup attempt occurring on 28 September 1974. ''Nome Mulher'', then a new program, dedicated an episode which aired on 5 October profiling the role of women in preventing the coup attempt.<ref name="failedcoup">{{cite web |url=https://arquivos.rtp.pt/conteudos/liberdade-e-nome-de-mulher/ |title=Liberdade é Nome de Mulher |website=RTP Arquivos |access-date=2023-07-30 }}</ref> The road ahead for Portugal was also filled with social change, with a December 1974 episode discussing the aforementioned topic of ],<ref name="divorcio1">{{cite web |url=https://arquivos.rtp.pt/conteudos/divorcio-2/ |title=Divórcio |website=RTP Arquivos |access-date=2023-07-30 }}</ref> just before the Portuguese government reinstated its 1910 decision to allow all Portuguese, regardless of religion, the right to divorce.<ref name="divorcio2">{{cite web |url=https://www.nytimes.com/1975/01/30/archives/lisbon-and-rome-set-divorce-pact-proposed-change-extends-civil.html |title=LISBON AND ROME SET DIVORCE PACT |website=The New York Times |access-date=2023-07-30 }}</ref> O caminho para a democracia em Portugal foi pedregoso, com uma tentativa de golpe ocorrendo a 28 de Setembro de 1974. ''Nome Mulher'', então um novo programa, dedicou um episódio transmitido a 5 de Outubro ao papel das mulheres na prevenção da tentativa de golpe.<ref name="failedcoup">{{cite web |url=https://arquivos.rtp.pt/conteudos/liberdade-e-nome-de-mulher/ |title=Liberdade é Nome de Mulher |website=RTP Arquivos |access-date=2023-07-30 }}</ref> O caminho a seguir para Portugal também estava repleto de mudanças sociais, com um episódio de Dezembro de 1974 discutindo o tópico do divórcio,<ref name="divorcio1">{{cite web |url=https://arquivos.rtp.pt/conteudos/divorcio-2/ |title=Divórcio |website=RTP Arquivos |access-date=2023-07-30 }}</ref> pouco antes do governo português reinstaurar a sua decisão de 1910 de permitir a todos os portugueses, independentemente da religião, o direito ao divórcio.<ref name="divorcio2">{{cite web |url=https://www.nytimes.com/1975/01/30/archives/lisbon-and-rome-set-divorce-pact-proposed-change-extends-civil.html |title=LISBON AND ROME SET DIVORCE PACT |website=The New York Times |access-date=2023-07-30 }}</ref>


Other controversial installments included the discussion previously mentioned by Palla regarding the plight of single mothers in contemporary Portugal (aired on 22 February 1975);<ref name="singlemums">{{cite web |url=https://arquivos.rtp.pt/conteudos/maes-solteiras-parte-i/ |title=Mães Solteiras – Parte I |website=RTP Arquivos |access-date=2023-07-30 }}</ref> what family planning means to Portuguese women, both rural and urban (aired on 18 March 1975);<ref name="planning">{{cite web |url=https://arquivos.rtp.pt/conteudos/planeamento-familiar-parte-i/ |title=Planeamento Familiar – Parte I |website=RTP Arquivos |access-date=2023-07-30 }}</ref> the right of women to vote, recently given to women regardless of literacy level, discussed with the help of noted feminist ] (aired on 15 April 1975);<ref name="vote">{{cite web |url=https://arquivos.rtp.pt/conteudos/o-voto-das-mulheres-parte-ii/ |title=O Voto das Mulheres – Parte II |website=RTP Arquivos |access-date=2023-07-30 }}</ref> and a programme giving women the facts on abortion and contraception, with the help of medical professionals (airing on 14 June 1975).<ref name="aborto1">{{cite web |url=https://arquivos.rtp.pt/conteudos/falar-do-aborto-1-2/ |title=Falar do Aborto – Parte I |website=RTP Arquivos |access-date=2023-07-30 }}</ref> ''Nome Mulher'' was more than a hot-button issue programme, because it attempted to tackle not just these issues but also the standard of living for many Portuguese women. A 1974 series in which de Sousa and Palla visited ] in the ]<ref name="terceira">{{cite web |url=https://arquivos.rtp.pt/conteudos/as-crencas-dos-homens/ |title=As Crenças dos Homens |website=RTP Arquivos |access-date=2023-07-30 }}</ref> was well-received, as were reports on agricultural workers,<ref name="agricola">{{cite web |url=https://arquivos.rtp.pt/conteudos/de-sol-a-sol-parte-i/ |title=De Sol a Sol – Parte I |website=RTP Arquivos |access-date=2023-07-30 }}</ref> women who worked in fishing,<ref name="peixe">{{cite web |url=https://arquivos.rtp.pt/conteudos/as-mulheres-dos-pescadores/ |title=As Mulheres dos Pescadores |website=RTP Arquivos |access-date=2023-07-30 }}</ref> and a "diary" of the daily life of a woman who worked as a ].<ref name="donacasa">{{cite web |url=https://arquivos.rtp.pt/conteudos/pequeno-diario-de-uma-dona-de-casa/ |title=Pequeno Diário de uma Dona de Casa |website=RTP Arquivos |access-date=2023-07-30 }}</ref> Outros episódios controversos incluíram a discussão anteriormente mencionada por Palla sobre a situação das mães solteiras na Portugal contemporânea (transmitido a 22 de Fevereiro de 1975);<ref name="singlemums">{{cite web |url=https://arquivos.rtp.pt/conteudos/maes-solteiras-parte-i/ |title=Mães Solteiras – Parte I |website=RTP Arquivos |access-date=2023-07-30 }}</ref> o que o planeamento familiar significa para as mulheres portuguesas, tanto rurais como urbanas (transmitido a 18 de Março de 1975);<ref name="planning">{{cite web |url=https://arquivos.rtp.pt/conteudos/planeamento-familiar-parte-i/ |title=Planeamento Familiar – Parte I |website=RTP Arquivos |access-date=2023-07-30 }}</ref> o direito de voto das mulheres, recentemente concedido às mulheres independentemente do nível de literacia, discutido com a ajuda da notável feminista Elina Guimarães (transmitido a 15 de Abril de 1975);<ref name="vote">{{cite web |url=https://arquivos.rtp.pt/conteudos/o-voto-das-mulheres-parte-ii/ |title=O Voto das Mulheres – Parte II |website=RTP Arquivos |access-date=2023-07-30 }}</ref> e um programa que dava às mulheres informações sobre aborto e contracepção, com a ajuda de profissionais médicos (transmitido a 14 de Junho de 1975).<ref name="aborto1">{{cite web |url=https://arquivos.rtp.pt/conteudos/falar-do-aborto-1-2/ |title=Falar do Aborto – Parte I |website=RTP Arquivos |access-date=2023-07-30 }}</ref> ''Nome Mulher'' era mais do que um programa de questões polémicas, pois tentava abordar não apenas estas questões, mas também o padrão de vida de muitas mulheres portuguesas. Uma série de 1974 em que de Sousa e Palla visitaram Terceira nos Açores<ref name="terceira">{{cite web |url=https://arquivos.rtp.pt/conteudos/as-crencas-dos-homens/ |title=As Crenças dos Homens |website=RTP Arquivos |access-date=2023-07-30 }}</ref> foi bem recebida, assim como reportagens sobre trabalhadoras agrícolas,<ref name="agricola">{{cite web |url=https://arquivos.rtp.pt/conteudos/de-sol-a-sol-parte-i/ |title=De Sol a Sol – Parte I |website=RTP Arquivos |access-date=2023-07-30 }}</ref> mulheres que trabalhavam na pesca,<ref name="peixe">{{cite web |url=https://arquivos.rtp.pt/conteudos/as-mulheres-dos-pescadores/ |title=As Mulheres dos Pescadores |website=RTP Arquivos |access-date=2023-07-30 }}</ref> e um "diário" da vida quotidiana de uma mulher que trabalhava como empregada doméstica.<ref name="donacasa">{{cite web |url=https://arquivos.rtp.pt/conteudos/pequeno-diario-de-uma-dona-de-casa/ |title=Pequeno Diário de uma Dona de Casa |website=RTP Arquivos |access-date=2023-07-30 }}</ref>


==Cancelamento e consequências==
==Cancellation and aftermath==


On 4 February 1976, ''Nome Mulher'' aired a special called ''O Aborto não é um Crime'' (''Abortion is Not a Crime'').<ref name="aborto2">{{cite web |url=https://arquivos.rtp.pt/conteudos/o-aborto-nao-e-um-crime-parte-i/ |title=O Aborto não é um Crime – Parte I |website=RTP Arquivos |access-date=2023-07-30 }}</ref> The title was chosen deliberately, as abortion was indeed a crime under Portuguese law and would be so until 2007.<ref name="aborto3">{{cite web |url=https://jacobin.com/2020/08/portugal-womens-liberation-movement-mlm-carnation-revolution |title=The Portuguese Revolution and Women’s Liberation |website=Jacobin |access-date=2023-07-30 }}</ref> The topic focused on a clandestine group in the Lisbon area (with all of the attendees and participants using only first names) who facilitated illegal abortions.<ref name="aborto2" /> These people, who have studied the acts of abortion and reproductive health but were not medical doctors themselves,<ref name="aborto2" /> offered their services to interested parties and typically did not involve doctors because they felt the method of abortion used, the ] method, was not a "medical act", therefore bypassing the need for a doctor in such a scenario.<ref name="aborto2" /> The clandestine group also offered references to medical aftercare and even provided psychological services to women post-abortion.<ref name="aborto4">{{cite web |url=https://arquivos.rtp.pt/conteudos/o-aborto-nao-e-um-crime-parte-ii/ |title=O Aborto não é um Crime – Parte II |website=RTP Arquivos|access-date=2023-07-30 }}</ref> A 4 de Fevereiro de 1976, ''Nome Mulher'' transmitiu um especial chamado "O Aborto não é um Crime".<ref name="aborto2">{{cite web |url=https://arquivos.rtp.pt/conteudos/o-aborto-nao-e-um-crime-parte-i/ |title=O Aborto não é um Crime – Parte I |website=RTP Arquivos |access-date=2023-07-30 }}</ref> O título foi escolhido deliberadamente, pois o aborto era de facto um crime segundo a lei portuguesa e continuaria a ser até 2007.<ref name="aborto3">{{cite web |url=https://jacobin.com/2020/08/portugal-womens-liberation-movement-mlm-carnation-revolution |title=The Portuguese Revolution and Women’s Liberation |website=Jacobin |access-date=2023-07-30 }}</ref> O episódio focou-se num grupo clandestino na área de Lisboa (com todos os participantes usando apenas os primeiros nomes) que facilitava abortos ilegais.<ref name="aborto2" /> Estas pessoas, que tinham estudado obstetrícia, aborto, e saúde reprodutiva, mas não possuíam diplomas e credenciais de médicos,<ref name="aborto2" /> ofereciam os seus serviços a partes interessadas e normalmente não envolviam médicos porque sentiam que o método de aborto usado, o método de aspiração a vácuo, não era um "ato médico", contornando assim a necessidade de um médico numa tal situação.<ref name="aborto2" /> O grupo clandestino também oferecia referências para cuidados médicos pós-procedimento e até fornecia serviços psicológicos a mulheres pós-aborto.<ref name="aborto4">{{cite web |url=https://arquivos.rtp.pt/conteudos/o-aborto-nao-e-um-crime-parte-ii/ |title=O Aborto não é um Crime – Parte II |website=RTP Arquivos|access-date=2023-07-30 }}</ref>


While ''Nome Mulher'' was controversial in the past, this particular special, which included footage of a woman aborting her pregnancy via the vacuum aspiration method in a clinic setting in ],<ref name="aborto3" /><ref name="aborto4" /> caused a national uproar. There were calls for the head of RTP at the time, Manuel Pedroso Marques, to cancel the series, which only further complicated matters as he was (and still is today) the husband of Maria Antónia Palla.<ref name="aftermath" /> The Porto Fundo de Fomento à Habitação story, which had already been produced and completed, was allowed to air on 2 March 1976,<ref name="direito" /> but afterward, Marques pulled the program for good.<ref name="aftermath" /> Embora ''Nome Mulher'' tenha sido controverso no passado, este especial em particular, que incluiu imagens de uma mulher a abortar a sua gravidez através do método de aspiração a vácuo numa clínica em Cova da Piedade,<ref name="aborto3" /><ref name="aborto4" /> causou um alvoroço nacional.<ref name="nyt2">{{cite web |url=https://www.nytimes.com/1976/03/13/archives/abortions-in-portugal-a-complex-controversy.html |title=Abortions in Portugal, A Complex Controversy |website=The New York Times |access-date=2023-07-30 }}</ref> Grupos políticos conservadores uniram-se para denunciar o programa, e até mesmo o Partido Socialista no poder na altura sentiu-se compelido a permanecer em silêncio.<ref name="nyt2" /> Um político socialista, falando sob condição de anonimato ao ''The New York Times'', disse que embora o partido em geral concordasse com as posições de Palla,<ref name="nyt2" /> o timing do programa foi inoportuno, pois surgiu inesperadamente nas semanas que antecederam as eleições legislativas portuguesas de 1976, potencialmente prejudicando as suas chances nas urnas.<ref name="nyt2" /> Houve apelos para que o chefe da RTP na época, Manuel Pedroso Marques, cancelasse a série, o que complicou mais as coisas, pois ele era (e ainda é hoje) o marido de Maria Antónia Palla.<ref name="aftermath" /> A reportagem sobre o Fundo de Fomento à Habitação no Porto, que havia sido produzida e concluída, foi autorizada a ser transmitida a 2 de Março de 1976,<ref name="direito" /> mas depois disso, Marques retirou o programa de vez.<ref name="aftermath" />


Pouco depois da transmissão do programa, a Maternidade Alfredo da Costa, o principal hospital maternidade de Lisboa, apresentou queixa contra Palla por "ofensa aos bons costumes" e "prática ilegal de medicina".<ref name="aftermath" /><ref name="nyt2 /> Palla argumentou que nunca fez uma declaração em direto endossando nem reprovando o aborto<ref name="nyt2" /> e que o objetivo do programa em questão era destacar como era fácil e relativamente seguro obter um aborto em Portugal, apesar da sua ilegalidade.<ref name="aftermath" /><ref name="nyt2" /> Palla alegou que em 1976, os abortos em Portugal podiam ser obtidos cumprindo o mínimo absoluto de padrões de higiene por apenas 500 escudos ($18.50 em dólares de 1976 e $98.90 em dólares de 2023, ou aproximadamente €90 em valores de euros de 2023),<ref name="nyt2" /> com tratamentos mais sofisticados e de luxo disponíveis por 5.000 escudos ($185 em dólares de 1976, ou $989 / €900 em valores de 2023).<ref name="nyt2" /> No entanto, Palla foi levada a julgamento em Lisboa em 1979.<ref name="aftermath" /> Ela acabou por ser absolvida de todas as acusações.<ref name="aftermath" />
Shortly after the programme's broadcast, Maternidade Alfredo da Costa, Lisbon's leading maternity hospital, filed charges against Palla for "offense to public morals" and "illegal practice of medicine".<ref name="aftermath" /> Even though Palla argued that the point of the programme in question was to highlight how easy and relatively safe it was to attain an abortion in Portugal, even though it was illegal, Palla was still brought to trial in Lisbon in 1979. She was eventually acquitted of all charges.


==References== ==References==

Latest revision as of 18:45, 30 July 2023

Nome Mulher foi um programa televisivo pioneiro sobre questões femininas, encomendado pela RTP1 em 1974, pouco após a Revolução dos Cravos. A série, apresentada pelas jornalistas Maria Antónia Palla e Antónia de Sousa, estreou a 10 de Agosto de 1974, com um olhar documental sobre a vida das mulheres na pequena cidade de Monforte da Beira, Castelo Branco, e quais eram as suas esperanças e sonhos agora que viviam num "mundo pós-25 de Abril". O primeiro episódio produzido, um olhar sobre a vida da estimada jornalista Maria Lamas, foi o segundo a ser transmitido, a 31 de Agosto de 1974.

Nome Mulher foi emitido durante 46 episódios semestrais, com o último episódio focado nas histórias do Serviço Local de Apoio Ambulatório no norte de Portugal e no envolvimento das mulheres no Fundo de Fomento à Habitação no Porto, a 2 de Março de 1976. Após essa transmissão, o programa foi retirado da programação, nunca mais regressando.

Conceção e controvérsia

Nome Mulher fazia parte de uma campanha mais ampla da Rádio e Televisão de Portugal para incorporar todas as vozes e opiniões portuguesas na sua programação após a Revolução dos Cravos ter derrubado o regime do Estado Novo a 25 de Abril de 1974. O regime do Estado Novo marginalizou as mulheres em muitos aspetos, ensinando as mulheres portuguesas que o seu serviço na vida era ser uma boa esposa, boa mãe, e boa católica. A programação da RTP antes da Revolução dos Cravos teria se focado apenas na promoção destes atributos.

Duas jornalistas que já tinham recebido elogios pelo seu trabalho em Portugal e no estrangeiro foram Maria Antónia Palla e Antónia de Sousa, duas das "Três Antónias" do movimento feminista de segunda onda em Portugal. Com a ajuda da cooperativa de produção Cinequipa e dos produtores Fernando Matos Silva e João Matos Silva, Nome Mulher foi conceptualizado como uma maneira de as mulheres expressarem livremente o mundo com que agora se confrontavam, e iriam enfrentar, agora que o antigo regime tinha acabado e Portugal estava a caminho de uma democracia representativa plena. Falando sobre o seu trabalho, Palla comentou em 2017, "O projecto passava por inventariar e debater os problemas das mulheres e registar as acções mais representativas das suas lutas no período revolucionário. Umas vezes, abordávamos um caso concreto, outras, um caso temático. Falávamos sobre coisas que nunca se tinham discutido antes: divórcio, mães solteiras, união de facto, etc."

O caminho para a democracia em Portugal foi pedregoso, com uma tentativa de golpe ocorrendo a 28 de Setembro de 1974. Nome Mulher, então um novo programa, dedicou um episódio transmitido a 5 de Outubro ao papel das mulheres na prevenção da tentativa de golpe. O caminho a seguir para Portugal também estava repleto de mudanças sociais, com um episódio de Dezembro de 1974 discutindo o tópico do divórcio, pouco antes do governo português reinstaurar a sua decisão de 1910 de permitir a todos os portugueses, independentemente da religião, o direito ao divórcio.

Outros episódios controversos incluíram a discussão anteriormente mencionada por Palla sobre a situação das mães solteiras na Portugal contemporânea (transmitido a 22 de Fevereiro de 1975); o que o planeamento familiar significa para as mulheres portuguesas, tanto rurais como urbanas (transmitido a 18 de Março de 1975); o direito de voto das mulheres, recentemente concedido às mulheres independentemente do nível de literacia, discutido com a ajuda da notável feminista Elina Guimarães (transmitido a 15 de Abril de 1975); e um programa que dava às mulheres informações sobre aborto e contracepção, com a ajuda de profissionais médicos (transmitido a 14 de Junho de 1975). Nome Mulher era mais do que um programa de questões polémicas, pois tentava abordar não apenas estas questões, mas também o padrão de vida de muitas mulheres portuguesas. Uma série de 1974 em que de Sousa e Palla visitaram Terceira nos Açores foi bem recebida, assim como reportagens sobre trabalhadoras agrícolas, mulheres que trabalhavam na pesca, e um "diário" da vida quotidiana de uma mulher que trabalhava como empregada doméstica.

Cancelamento e consequências

A 4 de Fevereiro de 1976, Nome Mulher transmitiu um especial chamado "O Aborto não é um Crime". O título foi escolhido deliberadamente, pois o aborto era de facto um crime segundo a lei portuguesa e continuaria a ser até 2007. O episódio focou-se num grupo clandestino na área de Lisboa (com todos os participantes usando apenas os primeiros nomes) que facilitava abortos ilegais. Estas pessoas, que tinham estudado obstetrícia, aborto, e saúde reprodutiva, mas não possuíam diplomas e credenciais de médicos, ofereciam os seus serviços a partes interessadas e normalmente não envolviam médicos porque sentiam que o método de aborto usado, o método de aspiração a vácuo, não era um "ato médico", contornando assim a necessidade de um médico numa tal situação. O grupo clandestino também oferecia referências para cuidados médicos pós-procedimento e até fornecia serviços psicológicos a mulheres pós-aborto.

Embora Nome Mulher tenha sido controverso no passado, este especial em particular, que incluiu imagens de uma mulher a abortar a sua gravidez através do método de aspiração a vácuo numa clínica em Cova da Piedade, causou um alvoroço nacional. Grupos políticos conservadores uniram-se para denunciar o programa, e até mesmo o Partido Socialista no poder na altura sentiu-se compelido a permanecer em silêncio. Um político socialista, falando sob condição de anonimato ao The New York Times, disse que embora o partido em geral concordasse com as posições de Palla, o timing do programa foi inoportuno, pois surgiu inesperadamente nas semanas que antecederam as eleições legislativas portuguesas de 1976, potencialmente prejudicando as suas chances nas urnas. Houve apelos para que o chefe da RTP na época, Manuel Pedroso Marques, cancelasse a série, o que só complicou mais as coisas, pois ele era (e ainda é hoje) o marido de Maria Antónia Palla. A reportagem sobre o Fundo de Fomento à Habitação no Porto, que já havia sido produzida e concluída, foi autorizada a ser transmitida a 2 de Março de 1976, mas depois disso, Marques retirou o programa de vez.

Pouco depois da transmissão do programa, a Maternidade Alfredo da Costa, o principal hospital maternidade de Lisboa, apresentou queixa contra Palla por "ofensa aos bons costumes" e "prática ilegal de medicina". Palla argumentou que nunca fez uma declaração em direto endossando nem reprovando o aborto e que o objetivo do programa em questão era destacar como era fácil e relativamente seguro obter um aborto em Portugal, apesar da sua ilegalidade. Palla alegou que em 1976, os abortos em Portugal podiam ser obtidos cumprindo o mínimo absoluto de padrões de higiene por apenas 500 escudos ($18.50 em dólares de 1976 e $98.90 em dólares de 2023, ou aproximadamente €90 em valores de euros de 2023), com tratamentos mais sofisticados e de luxo disponíveis por 5.000 escudos ($185 em dólares de 1976, ou $989 / €900 em valores de 2023). No entanto, Palla foi levada a julgamento em Lisboa em 1979. Ela acabou por ser absolvida de todas as acusações.

References

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